segunda-feira, 28 de julho de 2008

UM BRILHO NA ESCURIDÃO

SOLANGE M. SÁ (monteiro.sa@ig.com.br)

cidade: Rio de Janeiro
estado: RJ
idade: De 51 a 60 anos
categoria: ESTÓRIAS
titulo: UM BRILHO NA ESCURIDÃO

Sou doente mental, "Transtorno Afetivo Bipolar", doença antes denominada "Psicose Maníaca Depressiva - PMD", o que significa que meu humor pode variar desde a depressão grave ao surto de mania (euforia), caso não esteja controlado por medicamentos e terapia analítica.
Trata-se de uma doença genética que pode manifestar-se, mais cedo ou mais tarde, na vida de uma pessoa portadora do gene, em função de suas condições de vida: perdas, pressões, situações angustiantes, traumatizantes, entre outras. Podendo até mesmo não se manifestar devido à qualidade de vida do portador.
Certas drogas como anfetamina (presente nos remédios para perda de apetite) e praticamente todos os tipos de tóxicos podem precipitar a manifestação da doença.
Eu vejo o surto de mania como um falso brilho anunciando a escuridão (depressão). Durante a minha vida houve muitos falsos brilhos e muita escuridão.
Eu sempre lutei, acreditei na minha luta, dei várias viradas de páginas. Sempre quis tornar-me uma pessoa dentro de uma certa faixa de normalidade, como todos que são ditos "normais". Sempre tive Fé em Deus, o que me levou a persistir nos tratamentos, apesar de vários "fracassos" e acreditar que conseguiria atingir o meu objetivo.
Muita gente que nunca soube da minha doença, hoje fica surpresa e custa a crer, que passei pelo que passei, cursei duas faculdades diferentes e exerci as profissões para as quais me graduei, de maneira brilhante.
É vergonhoso admitir, que somente consegui atingir meu objetivo, porque sempre omiti o fato de ser doente mental. Se não tivesse omitido, não teria sido incluída na sociedade, porque o preconceito exclui de imediato esses doentes.
Meu propósito ao relatar essa minha trajetória em busca de uma "normalidade" é levar aos doentes mentais, que são os mais estigmatizados, uma verdadeira luz, fruto de uma experiência vivida.
Antes de tudo, os doentes devem se livrar de seus próprios preconceitos e assumir suas deficiências. Somente assim, conseguirão lutar pelos seus direitos, como os tratamentos e sua inclusão na sociedade.
O acolhimento da família, dos amigos e das pessoas em geral é essencial para essa inclusão.
E de vital importância que os doentes mentais consigam o direito de inclusão.

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