quarta-feira, 16 de setembro de 2009

GABRIEL

Francisco Nonato Nogueira (fnogueiranonato@ibest.com.br)
IP: 187.40.188.209
Data: Quarta-feira, 16 de setembro de 2009 às 21:42:55
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cidade: Natal
estado: 0
idade: De 61 a 70 anos
sexo: masculino
categoria: ESTÓRIAS


GABRIEL


Gabriel, não era um anjo. Era um rapaz já de certa idade, que vivia às margens de um rio, no sertão do Ceará. Querido por todos, fazia festa aonde chegava. As mulheres e as crianças o adoravam. Apesar da idade um tanto a vançada para um rapaz, nunca havia se casado. Mas, para alguns amigos mais próximos, falava de amores, das marcas, das dores, especialmente de um que lhe marcou profundamente. Nunca esqueceu, mas, também não entrava em detalhes. Calava-se, desconversava e saia, quando alguém insistia.
Gabriel, que não era o anjo, era misterioso, tinha mistérios. Vários mistérios, os quais ao longo dos anos, ninguém ousou lhe perguntar, nem mesmo sua velha mãe.
Um dos mistérios de Gabriel era não dormir em casa à noite, notadamente nas noites de lua, lua cheia no sertão. Gabriel preferia dormir ou passar a noite no mato, dormir sob as arvores ou na areia do velho rio.
Gabriel, não era um anjo, segundo os comentários, Gabriel era um bicho noturno, um notívago, segundo as más línguas, um lobisomem, que durante a noite cassava deixava marcas na areia, nas margens do rio, onde corria e uivava noite adentro. Algumas pessoas diziam já ter visto. Sua velha mãe desconfiava, mas, ninguém nun ca dizia nada. Gabriel era a alegria da comunidade. Ninguém acreditava, não podia ser verdade o que o povo contava. Era invencionice, coisa de quem não tem o que fazer nas noites do sertão.
Uma noite, Chico de Eunice, que campeava umas vacas apartadas, chegou em casa um pouco tarde da noite, assombrado, todo arranhado, dizendo que tinha sido atacado por uma assombração, um animal que corria e uivava, rio acima, rio abaixo, correndo feito louco. Pra não morrer puxou a faca meteu no bicho, uma vez, duas vezes, que correndo entrou na mata.
No dia seguinte, Gabriel não apareceu em casa na hora de trabalhar, na hora do almoço, não estava. Preocupação da família, dos meninos, das moças. Onde andará Gabriel? Foram todos procurar, no rio, na mata às margens do rio. De repente, lá estava Gabriel, deitado debaixo de um juazeiro frondoso. Estava sujo, esvaído em sangue. Gabriel não se mexia. Estava morto. No corpo, dois enormes ferimentos. Duas facadas haviam matado Gabriel.
Passou muito tempo para aquele povo voltar a sorrir. Ainda hoje não se olha a lua, que quando cheia, até hoje, para aquela gente parece ter um brilho diferente.

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