Bia de Alencar - biadealencar@gmail.com
Dança menina
Menina sapeca levada da breca brincava de tudo até com boneca.
De bete e de malha à gata pintada, de pique e casinha com a meninada.
Corria, pulava, dançava na rua.
Andava a cavalo e bicicletinha,
Sem medo de nada,
Pois medo não tinha.
Na quadra da escola a bola imperava, jogando, driblando com a molecada.
Menina não pára.
Subindo ao altar de Nossa Senhora, menina cantou com grande emoção, ofertando a palma que tinha nas mãos: “eu te ofereço esta palma, esta palma colorida...”
Uma fada madrinha a convenceu: “vá para o palco que ele é seu”.
Como flor se vestiu em crepom colorido, recebendo aplausos dos entes queridos.
Menina gostou e pro palco voltou.
Menina cantou “nóis vai casá em janeiro eu cum tu e tu cum nheu” e “abecedeé abecedeé, homi é fio de muié”.
Pequena no palco brilhava feliz.
Se achando bonita se arruma e se pinta pensando que um dia seria atriz.
A fada madrinha mudou de cidade deixando a menina com grande saudade.
Duas bruxas malvadas surgiram do nada e dizendo feiosa, a deixam arrasada.
Menina tristonha então se encolheu achando que o palco, não mereceu.
Se joga no esporte correndo na quadra, bailando com a bola, driblando, levando pernada.
Beleza não conta só bola encestada.
Menina mocinha vai para os bailinhos e se ilude dançando com os rapazinhos.
Formou-se e casou-se repleta de sonhos frustrados com o tempo.
Dançando em casa, a valsa das mães, com filhos no colo ou segurando suas mãos.
Nesta valsa doméstica ficou sem parceiro que muda de palco, pra outro roteiro.
Sozinha com os filhos e despreparada, toca a vida pra frente e encara a parada.
Dançou na temperança sem perder a esperança.
Engoliu o pão que a sociedade impingiu.
Menina mulher não sucumbiu.
O tempo não pára, o tempo passou e sexagenária, se aposentou.
Pegando a menina grudada tão dentro, puxando pra fora explode no vento.
Sem fada, sem bruxas, com a pele vincada, menina idosa aos palcos voltou.
Dançando em grupo, no ritmo da idade,
Muito à vontade e sem nada a temer,
De vermelho se veste, sonhando, sorrindo,
E com a alma cantando seu alegre viver.
Bia de Alencar
Nenhum comentário:
Postar um comentário